Vertigo como nunca o vimos - e como Hitchcock nunca o fez

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Em Dezembro, o filme de Hitchcock volta às salas de cinema em cópia restaurada — e digital

O filme que é agora "o melhor de todos os tempos" volta às salas em Dezembro, em cópia digital

A edição deste ano da célebre sondagem da Sight & Sound, termómetro quase institucional para a medição dos "melhores filmes da história do cinema", deu finalmente um resultado diferente: Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes, de Alfred Hitchcock, desalojou O Mundo a Seus Pés, de Orson Welles, da primeira posição, e é agora "o melhor filme de todos os tempos". O cânone move-se e, sem surpresa (acompanhando o progressivo esquecimento das primeiras décadas do cinema - também revelado, "colateralmente", por esta sondagem), move-se para a frente no tempo: O Mundo a Seus Pés é de 1941, Vertigo de 1958. A passagem de testemunho faz um sentido imediato: o filme de Welles representa a Hollywood pujante e insolente do princípio dos forties; o filme de Hitchcock é um apogeu da idade clássica, e ao mesmo tempo um prenúncio, quase barroco, do seu fim, perfume a morte (e a mortas) por todo o lado, cinema "experimental" feito no coração da indústria, a necrofilia feita bela arte. Está muito bem entregue, o ceptro - que tem a validade de dez anos: só em 2022 voltará a haver nova sondagem da Sight & Sound.

Até lá, vamos ter oportunidade, em Portugal, de começar a peregrinação a Vertigo ainda este ano. Em Dezembro, o filme de Hitchcock volta às salas, com distribuição da Midas Filmes. Em cópia restaurada, anuncia-se Vertigo como nunca o vimos; sinal dos tempos, a cópia é digital - pelo que, mais do que como nunca o vimos, também será Vertigo como Hitchcock nunca o fez. O admirável mundo novo, por enquanto, não nos suscita mais do que um suspiro melancólico. Mas uma coisa é certa: o melhor filme que o circuito comercial tem para nos mostrar este ano terá estreia a 20 de Dezembro.

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