Sofia Coppola vai filmar Fairyland: crescer com um pai gay em São Francisco

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O poeta Steve Abbot começou a escrever cartas à filha, Alysia, quando ela era muito pequena. Documentava também episódios das suas vidas em diários, fazia inúmeras reflexões sobre a filha e o seu crescimento. “13 de Março, 1977: ultimamente, tem havido problemas com a Alysia. Passa muito tempo sozinha, aborrece-se com a televisão. E eu quero escrever, passar coisas à máquina, ler, trabalhar nas minhas coisas em vez de brincar com ela.” Como esta passagem, Steve Abbot escreveria outras sobre o quotidiano de um pai solteiro, que cuidou sozinho da filha depois de a mulher morrer num desastre de carro, levando-a para São Francisco (tinha Alysia dois anos). Ou, como escrevia, em 1975: “Não estou a tentar que ela cresça gay. Também não escondo a minha homossexualidade para que ela cresça heterossexual. Mas ela pode perceber que há muitas orientações e muitos modos de ser.” 

Partindo das suas memórias e dos registos que o pai deixou, a americana Alysia Abbot escreveu Fairyland, A Memoir of My Father, publicado nos Estados Unidos pela W. W. Norton & Company em Junho passado — um livro que é mais do que apenas uma história sobre o que foi crescer com um pai gay nos anos 1970 e 1980, em plena São Francisco. É sobretudo a história de amor entre um pai e uma filha, a história de uma ligação única — e é nisso que a realizadora Sofia Coppola, que fará a adaptação ao cinema, deverá centrar-se, conta Alysia Abbot ao Ípsilon. 

Os direitos de Fairyland foram recentemente comprados pela American Zoetrope, a produtora fundada por Francis Ford Coppola e George Lucas. Sofia irá adaptar o livro em co-autoria com Andrew Durham, e co-produzir o filme com o irmão, Roman Coppola. Alysia Abbot será “consultora criativa” do argumento, disse a escritora. “Vou trabalhar de perto com a Sofia e o Andrew, posso dar sugestões sobre o argumento, mas a minha palavra não será final”, explicou. “Eles querem centrar-se na ‘história de amor’ entre mim e o meu pai, no sentimento de ‘mundo de fantasia’ que partilhámos e na perda desse mundo de fantasia. Não me parece que queiram cobrir o contexto histórico tanto quanto eu o faço no livro.” 

É que se Fairyland se centra na relação filial, faz também uma espécie de documentário sobre um tempo em que os direitos civis dos homossexuais estavam na agenda da cidade que se tornou um símbolo disso mesmo. Já crescida, Alysia — que teve de trocar Paris por São Francisco para cuidar do pai que morria de sida — recebe uma carta do pai que diz assim: “Ontem estava a pensar que tu és a única pessoa que amo. Dos outros, gosto de tempos a tempos.”

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