Charlotte Rampling interpreta Yourcenar no Festival de Almada

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Rampling é Yourcenar num espectáculo que ficciona um diálogo entre a autora de "Memórias de Adriano" e o poeta grego Konstandinos Kavafis

Teatro Nacional de S. João, no Porto (16 de Julho), e na sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II (dias 17 e 18)

A actriz inglesa Charlotte Rampling vai estar na próxima edição do Festival de Teatro Almada, em Julho, com "Yourcenar/Cavafy", um diálogo ficcionado entre a autora de "Memórias de Adriano" e o poeta grego de Alexandria, interpretado pelo actor Polydoros Vogiatzis. O espectáculo, concebido por Jean-Claude Feugnet a partir de uma cenografia de Lambert Wilson, será apresentado no Teatro Nacional de S. João, no Porto (16 de Julho), e na sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II (dias 17 e 18).

Mais conhecida pelos seus papéis no cinema - ao longo de quase meio século de carreira, trabalhou com Roger Corman, Luchino Visconti, Liliana Cavani, Woody Allen, Sidney Lumet, Nagisa Oshima, Claude Lelouch ou, mais recentemente, François Ozon e Todd Solondz -, Rampling nunca deixou inteiramente o palco, ao qual agora regressa com este "Yourcenar/Cavafy", que tem itinerado por vários países da Europa.

Cruzando excertos de romances e ensaios de Marguerite Yourcenar (1903-1987), como "Memórias de Adriano", "A Obra ao Negro" ou "Fogos", e poemas de Konstandinos Kavafis (1863-1933), esta espécie de conversa literária imagina um encontro que nunca existiu a três dimensões. Yourcenar passou o Verão de 1936 em Atenas e foi nessa ocasião que conheceu a poesia de Kavafis, através de Konstandinos Dimaras. O poeta tinha morrido três anos antes, de cancro na laringe, e a primeira edição reunida dos seus poemas fora postumamente publicada em 1935. 
A romancista rapidamente se apercebeu de que tinha bastante em comum com o esteta de Alexandria. Homossexual, hedonista, fascinado pela História, Kavafis viveu em Inglaterra, durante a sua infância e adolescência, mas, de resto, salvo algumas breves viagens, raramente saiu de Alexandria, onde era corretor da Bolsa. Escreveu pouco mais de centena e meia de poemas, muitos deles relacionados com temas da história grega e romana, outros de teor homoerótico, apresentados como rememorações da juventude.

Yourcenar começou a traduzi-lo nos anos quarenta, mas só em 1958 saiu na Gallimard a sua tradução integral dos poemas de Kavafis, co-assinada com Dimaras, que contestou muitas das soluções propostas pela romancista, mas que raramente a terá conseguido persuadir dos seus pontos de vista. Dimaras veio mesmo a dizer, mais tarde, que Yourcenar não captou "o clima particular da poesia de Kavafis" e que a sua tradução é, sobretudo, "a obra de uma grande estilista francesa". O próprio executor literário de Kavafis, Alexandros Singopoulos, não apreciou o trabalho de Yourcenar, cuja publicação terá procurado impedir, e apadrinhou a tradução francesa de G. A. Papoutsakis, editada no mesmo ano.

Em Portugal, o primeiro tradutor de Kavafis foi Jorge de Sena, que publicou em 1970, na editora Inova, "Constantino Cavafy: 90 e Mais Quatro Poemas". As suas versões foram altamente elogiadas pela própria Yourcenar, numa extensa carta que esta lhe enviou.
No final dos anos 80, o poeta e ensaísta Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis começaram a traduzir e a publicar poemas e prosas de Kavafis, tendo finalmente saído, em 2005, na Relógio d'Água, a tradução integral dos 154 poemas que o poeta, antes de morrer, considerara terminados.

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