Art Basel: O mercado da arte volta a respirar

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Termina amanhã aquela que é a maior feira de arte mundial e que funciona como uma espécie de barómetro do mercado - o que o barómetro da Art Basel diz é que a crise ficou para trás

Por ano: 2008 foi desastroso e 2009 deprimente. Em 2010 começa-se a respirar em Basileia e no mercado internacional de arte. É claro que 2007 tinha sido - na arte, como noutros mercados - eufórico. Desde aí, e apesar do optimismo de 2010, o mundo mudou. E como é este novo mundo? Numa palavra: exigente. "Uma feira de qualidade muito sólida para um mercado que não quer brincadeiras" - foi a descrição de Joaquim Garcia Martins, da galeria de Madrid Helga de Alvear. A grande tendência deste ano, realça Garcia Martins, parece ser a redescoberta dos anos 70, ou seja, dos "últimos clássicos". A Helga de Alvear tem pelo menos um "clássico" de 1979 - sente-me, de Helena Almeida (Portugal, 1934) -, mas a peça no stand espanhol que atrai mais atenção é um trabalho recente do português residente em Berlim Jorge Queiroz (Portugal, 1966), artista a ganhar cada vez mais projecção internacional. "Cada duas em três pessoas que entram no stand perguntam pelo trabalho do Jorge Queiroz", diz Joaquim Garcia Martins. O ambiente na Art Basel continua a ser, em 2010, de procura de apostas seguras. A questão é - como sugere Björn Alfers, de uma das mais importantes galerias, a suíça Eva Presenhuber - "o que é seguro hoje em dia?" Quem arrisca... No imenso espaço da Art Unlimited, ocupado com instalações sonoras e visuais ambiciosas e não-comerciais, o trabalho de Pierre Bismuth (França, 1963) é discreto: imagens a preto e branco estão coladas em paredes improvisadas. As imagens são fotocópias de obras de arte de outros artistas e as paredes desenham um espaço exactamente igual ao do stand da galeria de Pierre Bismuth, a Team. Cada vez que a Team altera o stand na Art Basel, Bismuth altera a peça na Art Unlimited. Numa feira onde competem cerca de 300 galerias, ter o artista a representar a galeria e não só a galeria a representar o artista, é óptima publicidade. Não que a Team precise: com apenas 13 anos de vida, a galeria de José Freire é a maior pequena galeria em Basileia, a nova coqueluche de Nova Iorque, e a prova de que fazer apostas arriscadas compensa. Desde o primeiro dia da Art Basel, terça-feira, reservado a convidados (leia-se, grandes coleccionadores), José Freire, nova-iorquino nascido na Galiza, é um galerista feliz. No stand continuam expostas três obras de grande formato de Cory Arcangel (EUA, 1978), e uma pesada bandeira americana de alumínio de Banks Violette (EUA, 1973), peças que já vendeu, apesar da escala, e que não retira porque continuam a mostrar a "ambição dos artistas" e também a "ambição da galeria". Quem arrisca, petisca: "Às seis horas do primeiro dia, tínhamos tido o nosso melhor desempenho de sempre numa feira." Quem não arrisca... Talvez seja o crescente interesse por todas as coisas brasileiras, ou talvez seja uma procura de mercados alternativos ou talvez seja, brinca Mariana Carvalho, simplesmente "porque é ano de copa", o que sempre favorece o Brasil, também a galeria Luísa Strina, de São Paulo, tinha vendido quase todo o stand no primeiro dia de feira. Outra aposta arriscada, a Strina decidiu focar-se em dois artistas: os brasileiros Daniel Sinsel e Alexandre da Cunha, que vivem juntos em Londres, e montou um stand que parece uma pequena exposição, com título e tudo - Nuts in May. Quanto à participação portuguesa, a feira excedeu as expectativas de Cristina Guerra, depois dos anos "para esquecer" de 2009 e 2008. Em 2010 não faltavam coleccionadores interessados. O que faltava, como falta sempre, é a companhia de outras galerias portuguesas (há apenas mais uma galeria portuguesa em Basileia, na feira paralela, Hot Basel, a Perve). Só com mais participação portuguesa, é que se pode construir, diz Cristina Guerra, "uma força comercial" e de "promoção da arte portuguesa". Há bons artistas. Há bons galeristas. Falta apoio do Estado e talvez falte um pouco de coragem para arriscar.
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