Edgar Martins e "New York Times": depois da polémica, as galerias

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Um ano depois da controvérsia gerada pela série de fotografias que fez para a revista de domingo do "New York Times", o portfolio de Edgar Martins "Ruins of the Second Gilded Age" está a ter uma segunda vida.

Um ano depois da controvérsia gerada pela série de fotografias que fez para a revista de domingo do "New York Times", o portfolio de Edgar Martins "Ruins of the Second Gilded Age" está a ter uma segunda vida. A Photographers' Gallery, em Londres, mostra até 1 de Agosto uma selecção de imagens dessa série, que gerou intenso debate na blogosfera e na imprensa em Julho de 2009, quando um participante do fórum de discussão Metafilter mostrou que as fotografias - sobre casas e projectos de construção suspendidos por causa do colapso do mercado imobiliário nos EUA - tinham sido manipuladas digitalmente através do recurso ao Photoshop. O "New York Times" ("NYT") retirou as fotos do seu "site", justificando, em nota editorial, que "se os editores soubessem de antemão que as fotografias tinham sido manipuladas digitalmente, não teriam publicado o ensaio fotográfico". O caso não poupou nenhuma das partes ao embaraço: o "NYT" foi criticado pelo seu erro de "casting", ao encomendar o trabalho a um artista, e não a um fotojornalista, e Edgar Martins por sempre ter defendido a não-manipulação como um valor da sua obra. Mas também se disse que se o portfolio tivesse sido apresentado num contexto artístico, a controvérsia nunca teria tido lugar, porque a questão da verdade factual das imagens não seria relevante.

"A polémica foi interessante enquanto debate pedagógico, e penso que é uma discussão que deve acontecer em termos de um público alargado", diz ao Ípsilon Gemma Barnett, gerente de vendas da Photographers' Gallery, onde uma selecção de "Ruins of the Second Gilded Age" está em exibição para venda. "Mas enquanto instituição artística, essas questões [da manipulação digital] não têm relevância para o trabalho em si. Elas apenas fazem sentido no contexto editorial de um jornal."

Para além de Londres, uma selecção dessa série vai também ser mostrada em Outubro, no Centro Cultural Gulbenkian, em Paris, numa exposição de Edgar Martins comissariada por Sérgio Mah. Que defende: "Num contexto de galeria não existem estes pruridos, estes preconceitos, estas noções dicotómicas entre realismo e ficção, de que o 'New York Times' tem uma concepção completamente geométrica."

Uma série de 15 fotografias de "Ruins of the Second Gilded Age" foi comprada para a colecção da Fundação EDP. João Pinharanda, curador da colecção EDP diz que "os contornos do caso e os argumentos de Edgar Martins" foram discutidos internamente. "Os problemas colocados pelo 'NYT' não se colocam no nosso caso. As questões éticas e profissionais pareceram-nos explicadas. A mais-valia estética do trabalho garantia a superação de outras polémicas." A EDP encomendou ainda ao fotógrafo português radicado em Londres um levantamento fotográfico dos centros de aproveitamento hidroeléctrico no norte e centro de Portugal, que será editado em livro e apresentado numa exposição em 2011.

Está também prevista a edição de "Ruins of the Second Gilded Age" em livro pela britânica Dewi Lewis em Dezembro deste ano, e em Fevereiro de 2011 nos EUA.

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