Vasco Araújo - dez anos de filmes em revisão

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"Mulheres D'Apolo", de 2010, um dos filmes incluídos na sessão de hoje da Cinemateca

Abordam as temáticas que se têm instituído como o grande pano de fundo e fio condutor da obra de Vasco Araújo: as questões de género e identidade e as problemáticas em torno do pós-colonialismo, todas intrinsecamente ligadas a narrativas de poder e de lutas de poder. Entre The Girl From The Golden West, de 2004, e Retrato, estreado há duas semanas no festival IndieLisboa, os oito filmes que a Cinemateca Portuguesa concentra hoje às 19h30 numa única sessão de 1h15 oferecem uma visão panorâmica sobre dez anos da produção videográfica deste artista plástico, coincidindo com os últimos dias de Botânica, a sua primeira exposição individual no Museu do Chiado, em Lisboa (até domingo).

Todos estes trabalhos foram já antes apresentados, mas, normalmente, em contexto expositivo, quer museológico, quer galerístico. Nunca no grande ecrã de uma sala de cinema. “Porque é que os filmes de um artista plástico não têm cabimento num cinema, ou, neste caso, mais exactamente, num museu do cinema?”, questiona Ana Isabel Strindberg, programadora deste núcleo de obras em que se incluem ainda Augusta (2008), Eco (2008), O Percurso (2009), Impero (2010), Mulheres D’Apolo (2010) e Far Donna (2005). “A mim interessava-me saber como é que os filmes do Vasco podem ser vistos no cinema, até porque têm uma ideia de mise-en-scène muito específica.”

Cruzando referências — e estratégias — contemporâneas com as grandes narrativas — e temáticas — da cultura clássica, Vasco Araújo levanta questões políticas pouco trabalhadas em Portugal, tanto no cinema como nas artes plásticas. É o caso, nomeadamente, dos dilemas de uma bagagem colonial com que lidamos com dificuldade. São, no entanto, questões que extravasam quaisquer contextos nacionais. Como em Impero, parcialmente filmado entre os edifícios da arquitectura dita racionalista do EUR, o bairro construído em Roma pelo regime fascista italiano onde Mussolini quis concentrar todo o poder político do país, enredamo-nos em tramas que atravessam o mundo e os tempos, travestindo-se uma e outra vez com novas roupagens.

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