Poesia

Revelação portuguesa de um cineasta coreano nascido em 1954, que ainda ninguém se tinha lembrado de estrear por cá - vai para doze anos a Cinemateca passou um dos seus primeiros filmes, "Uma Faísca Solitária", que pela memória que guardamos pouco tem em comum com "Poesia". E "Poesia" também tem muito pouco - nada - em comum com o cinema coreano mais conhecido em Portugal (nada a ver com a agitação de Park Chan Wook, por exemplo).


É a história de uma velha senhora que vive com o seu desagradável neto (que ele sim, podia ter saido de um filme de Park Chan Wook) e tem problemas de sobra (com o neto, responsável moral pelo suicídio de uma miuda, e consigo própria: alzheimer ou coisa parecida). O que é interessante, e perfeitamente conseguido, é que todos estes ingredientes narrativos, que tão facilmente seriam postos no centro de tudo, são superados em função de um elogio da contemplação - o mundo exterior, e o mundo interior da senhora, unidos pela poesia que ela, de um momento para o outro, começa a escrever ou a tentar escrever.

História de uma "fuga" à realidade factual (os encontros com os implicados na história do neto) que se transforma não num "alheamento" mas numa espécie de outro tipo de consciência, ou de relação com o mundo. Algo de muito filosoficamente "oriental", passe o exotismo simplista da expressão. A protagonista (Jeong Ye-Hun), que pelo que podemos ler estava retirada há doze anos e fez aqui um "come back", é extraordinária.

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