Regra de Silêncio

O novo filme de Robert Redford lembrou-nos, por razões aparentemente laterais, um dos seus grandes êxitos: O Nosso Amor de Ontem, que se chamava em inglês The Way We Were - “o que nós éramos”. Regra de Silêncio não é senão um filme sobre “o que eles eram”, contraposto ao que eles são hoje, reencontrando revolucionários idealistas da luta universitária contra a guerra do Vietname num presente que parece não ter aprendido muito com o passado.


Redford traça a revelação por um jovem jornalista ambicioso (Shia Labeouf, correcto mas sem brilho) que um advogado suburbano (o próprio Redford) é na verdade um antigo activista na clandestinidade que o FBI procura há mais de 30 anos como cúmplice num assalto que acabou mal, acompanhando em seguida a sua fuga em busca dos antigos colegas de movimento para poder recuperar a vida que está em vias de perder. E é nessa busca do tempo perdido que Regra de Silêncio se ganha de modo quase comovente, revendo à distância de 40 anos o idealismo de quem quer mudar o mundo e questionando se serviu para alguma coisa, funcionando como uma espécie de “reencontro” (e até de “ajuste de contas”) com a própria história do cinema liberal americano dos anos 1970 em que o actor e realizador foi uma das figuras centrais.

Nem sequer falta a invocação do tal “amor de ontem” - no reencontro entre Redford e uma luminosa Julie Christie, ambos afirmando orgulhosamente a sua idade - para traçar a genealogia de um filme que reivindica essa herança (e sim, é legítimo pensar na Fuga sem Fim de Sidney Lumet) sem o fazer de modo puramente nostálgico, como fica provado na estrutura da adaptação do romance de Neil Gordon. Se o argumentista Lem Dobbs monta dois percursos que se desenrolam em paralelo e se iluminam mutuamente, Redford não está tão à vontade na secção “moderna” sobre o jornalista ambicioso, resultando num filme que oscila entre uma lucidez serena e tocante e um certo paternalismo convencional e bem-intencionado. Redford lembra-se, contudo, destes tempos; é isso que empresta a Regra de Silêncio a gravidade de que precisa para se erguer acima do classicismo modesto que é a imagem de marca do realizador.

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