É negra a versão de Tim Burton do País das Maravilhas

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O Chapeleiro (Johnny Depp) acaba por ser, nesta versão da história, uma personagem central

Wonderland? Não, Underland. O realizador apresentou hoje em Londres a sua versão negra do País das Maravilhas. O Ípsilon esteve do outro lado do espelho com Tim Burton e Johnny Depp. Estreia a 4 de Março

"Vi  todas as versões de ‘Alice no País das Maravilhas' e não senti que houvesse uma definitiva", contou o realizador Tim Burton hoje em Londres, numa conferência de imprensa de apresentação da sua versão de "Alice" - com estreia mundial a 4 de Março. Resolveu, por isso, olhar com os seus olhos para uma história que "faz completamente parte da nossa cultura". E filmá-la em 3D para a Disney. 

O resultado é uma Alice (a australiana Mia Wasikowska) que cresceu - tem 19 anos - e está, quando a conhecemos, a tentar escapar a um pedido de casamento de um aristocrata enjoativo. Um coelho branco que passa apressado desvia-lhe a atenção. Alice começa a segui-lo e cai por um buraco junto a uma árvore.

Mas se este pedaço da história nos é familiar, o resto nem tanto. O que Alice vai encontrar "do outro lado do espelho" não é o País das Maravilhas (Wonderland), mas o País Subterrâneo (Underland), onde a terrível Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), com uma cabeça desmedidamente grande, exerce o seu domínio ditatorial, mandando cortar (outras) cabeças a torto e a direito. A actriz, que confessa que perdia a voz de tanto gritar, descreve a sua personagem como "uma espécie de criança que acha que tudo gira à volta dela." E ri. "E é uma tirana. Todas as crianças são tiranas."

Aí vivem todas as personagens que conhecemos, só que mais tristes, mais acabrunhadas, numa paisagem desolada, cinzenta. E esperam Alice para as salvar e devolver o trono à Rainha Branca (Anne Hathaway). "Não há muita diferença entre Wonderland e Underland", diz Burton. "Escrevem-se de maneira diferente", acrescenta com uma gargalhada. "Mas basicamente tentámos ser fiéis ao espírito do sítio".

Alice reencontra o seu amigo Chapeleiro (Johnny Depp) que acaba por ser, nesta versão da história, uma personagem central. Com a sua cabeleira cor-de-laranja, enormes olhos verdes distorcidos para parecerem ainda maiores, e um humor volátil, o Chapeleiro é a mais burtoniana de todas as personagens, um herói com angústias, na linha de outros criados pela dupla Burton-Depp desde "Eduardo Mãos-de-Tesoura".

Não interessava a Depp fazer um Chapeleiro que fosse simplesmente amalucado, saltitando de um lado para o outro e despejando chá por dúzias de chávenas improváveis. Interessava-lhe que a personagem fosse tocada pela tragédia. "Queria ser o lado extremo de diferentes pessoas, ser negro e perigoso, passar da raiva para o medo, e depois para uma enorme  liberdade", explicou o actor.

Pôs-se a recolher informação sobre chapeleiros e descobriu que antigamente estes usavam para fazer os chapéus uma cola com mercúrio que os ia envenenando lentamente, o que, para ele, encaixava na loucura do Mad Hatter criado originalmente por Lewis Carroll. "Isso provocava-lhes desordens de personalidade e deixava-lhes manchas laranjas nos dedos". Percebeu rapidamente como tinha que ser o seu Chapeleiro - alguém "com um certo grau de perturbação, de trauma".

Quanto à opção por filmar em 3D, Burton garante que fez para ele todo o sentido, porque o mundo de Alice tem dimensão e profundidade para isso. "Foi a mistura de meio e material que me fascinou". Mas confessou: "Há uns anos não sei se me teria atraído tanto."

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