Pedro Costa em destaque na Tate Modern

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Para Stuart Comer, curador de cinema da Tate, o trabalho de Pedro Costa nem sempre é bem recebido pelo público já que ocupa "um lugar estranho entre a arte e a indústria cinematográfica" Vincent Kessler/REUTERS

Retrospectiva completa dos seus filmes, em Londres, que começa sexta-feira.

A Tate Modern vai dar à obra de Pedro Costa a visibilidade que o realizador português não teve nas salas de cinema britânicas, ao organizar uma retrospectiva completa dos seus filmes, em Londres, que começa sexta-feira.

"O mundo não tem lugares convenientes para o seu trabalho ser visto e compreendido", lamenta Stuart Comer, curador de cinema da Tate, em declarações à agência Lusa. A razão, explica, é que os seus filmes "ocupam um lugar estranho entre a arte e a indústria cinematográfica" que nem sempre é devidamente apreciado pelo público.

Ao organizar uma retrospectiva completa da sua obra com longas e curtas-metragens e mostrando alguns filmes considerados influentes no seu trabalho, Comer espera criar um contexto para os seus filmes serem vistos e compreendidos. A Tate Modern quer também aproveitar a atenção mediática que recebeu no Festival de Cannes o último filme, "Ne Change Rien" [e que terá estreia britânica durante o evento], e "Juventude em Marcha" no ano passado, que "criou uma percepção de que ele é um grande cineasta".

Além das longas-metragens "No Quarto de Vanda", "Juventude em Marcha", "O Sangue", "Casa de Lava" e "Ossos", serão mostradas as curtas "6 Bagatelas", "Tarrafal" e o documentário "Onde Jaz o teu sorriso?". Na segunda parte da retrospectiva, "Carta Branca", são mostrados filmes de outros realizadores que influenciaram ou cuja temática é relacionada com Pedro Costa. É o caso de "Itinéraire de Jean Bricard" e "Sicilia!", ambos de Jean-Marie Straub and Danièle Huillet, "A Luta", de DW Griffith, "O Poder das palavras, de Jean-Luc Godard, "Beauty #2", de Andy Warhol e, na última sessão, a 04 de Outubro, "O Porco", de Jean Eustache, e "Routine Pleasures", de Jean-Pierre Gorin.

O interesse da Tate Modern no trabalho de Pedro Costa, justificou Stuart Comer, é na forma como o cineasta aborda algumas temáticas que são alvo de debate actualmente, como a migração, a pobreza e a globalização. Os seus filmes são "políticos, mas não de forma preto no branco que só quer defender um ponto de vista".

Antes, Pedro Costa "desafia a pensar sobre o que significa alguém nas condições que muitos dos trabalhadores migrantes vivem, o que significa olhar essa imagem". "Os filmes do Pedro são muito influentes em jovens realizadores que conheço", comentou Comer, que conheceu o trabalho de Costa através de amigos que lhe falavam sempre de "um realizador português fantástico"

Um dos críticos de cinema do jornal Guardian considerou Pedro Costa como "o Samuel Becket do cinema" e aconselhou "Ossos", "um dos mais enigmáticos e assombrosos filmes do cinema moderno europeu".

"A retrospectiva de Pedro Costa não é para todos", admite Peter Bradshaw no seu blogue, consciente de que muitas pessoas se aborrecem com os longos planos e grandes silêncios. "Mas se quer ver arte provocadora no ecrã, então é obrigatória", vinca.

Para dar a opinião pessoal e responder a questões sobre o seu trabalho, Pedro Costa apresentará alguns dos filmes na Tate Modern e dará dia 29 de Setembro uma palestra na universidade Birkbek.

Amanhã, no Ípsilon, dossier sobre Pedro Costa: a retrospectiva na Tate, a reposição de "O Sangue" (e edição em DVD) e lançamento da monografia "Cem mil cigarros", prova do fascínio que a obra do realizador está a despertar em todo o mundo

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