Marionetas de todo o mundo: reuni-vos em Lisboa

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Os Buddenbrooks, de Thomas Mann, pela companhia alemã Puppentheater Halle

Maio é, no calendário da cidade de Lisboa, mês de marionetas. Catorze edições depois, o FIMFA continua a apostar, de forma inteligente, na reconstrução permanente, de um olhar activo sobre o mundo a partir da imobilidade material das marionetas. “Enquanto um actor luta para morrer no palco, as marionetas lutam para viver e é por causa desta luta que o público é capaz de criar empatia com elas”, escreveu Adrian Kohler, da companhia sul-africana Handspring Puppet Company (que já esteve em Lisboa, por exemplo em 2011 com Woyzeck on the Highveld, Programa Próximo Futuro/Gulbenkian). É esta hipótese de construção que assume: o teatro de marionetas é um espelho da própria sociedade. E os 14 espectáculos que o FIMFa vai apresentar, vindos da Alemanha, França, Espanha, Finlândia, Holanda, Noruega, Israel, Reino Unido e Portugal, vão poder provar isso, entre 7 e 25 de Maio nos principais teatros de Lisboa. Dizem os directores artísticos Luís Vieira e Rute Ribeiro: “Elaborámos um festival que persevera os seus objectivos e que mostra que a marioneta é uma arte em plena evolução. Em cada época o Homem tem projectado na marioneta as suas preocupações, reivindicações, desejos e sensibilidade, os seus artistas conseguem levar-nos para paragens de sonho e também para dentro de nós próprios, ou seja, a marioneta como um espelho de diferentes visões do mundo”.

O festival abre com Lähtö/Départ, da companhia finlandesa WHS (São Luiz, 7 e 8), que cruza os universos do realizador Michelangelo Antonioni com os do pintor Caspar David Friedrich, numa viagem onírica e surrealista onde o teatro de objectos e as artes visuais se misturam para prestarem tributo ao cinema a preto e branco e aos mestres de magia do século XIX. Ambiciosa é também a leitura que a histórica companhia alemã Puppentheater Halle, a celebrar 60 anos, traz ao Maria Matos (9 e 10) Os Buddenbrooks, de Thomas Mann, saga familiar por onde passa a história da Alemanha, é interpretado pelas suas marionetas hiper-realistas, “numa manipulação de extrema precisão, com a reprodução de gestos perturbadoramente humanos, que nos dão a ilusão de estarem vivas”, explica o dossier de imprensa. Destaque ainda para Phantom Story, da holandesa Nicola Unger, que, recorrendo a sombras, recortes de papel e projecções, constrói uma biografa sobre sobre o terrorismo e o destino a partir de Carlos, O Chacal.

São apenas três nomes internacionais de uma programação que inclui ainda as novas criações dos portugueses Teatro do Ferro (Olo, Museu da Marioneta, dia 22), e do Teatro Marionetas do Porto (Pelos Cabelos, Museu da Marioneta, 17 e 18). Estão previstas cerca de cinquenta representações que envolvem espectáculos de sala, de pequenas formas e de rua, para além de cinema, debates e exposições. É uma sorte, dizemos nós, olhando para o que escreve a direcção do festival: “A determinada altura pareceu-nos mesmo que seria impossível a sua realização. Nestes tempos difíceis há que saber equacionar e redimensionar perante um orçamento muito inferior ao das edições anteriores”.

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