Um cartaz vindo do céu

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O documentário estará disponível a partir de 1 de Abril no iTunes e depois no Google Play, no VHX (disponível para Portugal) e em DVD mediante encomenda no site

Bill Watterson aceitou desenhar o cartaz de Stripped — o primeiro cartoon que cria em quase 19 anos. É um documentário sobre o futuro das tiras de BD agora que o seu meio de excelência, os jornais, definha. Os criadores do filme estão felizes pela generosidade “do seu herói”

“Foi coisa de 5% do nosso pedido e 95% da incrível generosidade daquele homem em dizer sim. Penso que terá sentido a nossa relação apaixonada e séria com as tiras de BD — e, claro, ele partilha a mesma paixão”, explica Dave Kellett sobre a razão pela qual Bill Watterson aceitou desenhar o cartaz de Stripped. Kellett é o co-produtor e co-realizador (com Frederick Schroeder) do documentário que estará disponível a partir de 1 de Abril no iTunes e depois no Google Play, no VHX (disponível para Portugal) e em DVD, mediante encomenda no site.

“Temos uma enorme dívida de gratidão por nos ter permitido gravar uma entrevista com ele pela primeira vez”, acrescenta Kellett, também ele cartoonista, autor de duas webcomics (que é como quem diz, tiras de banda desenhada feitas directamente para o digital): Drive e Sheldon. E “é claro” que tanto Kellett como Schroeder estão conscientes do impacto que a decisão de Watterson irá ter na popularidade do documentário: “E estou convencido de que ele também sabia — razão pela qual estamos tão agradecidos. Que doce elogio, como cineastas, receber tal generosidade do nosso herói.”

Stripped é um documentário que pretende reflectir sobre o futuro das tiras de banda desenhada agora que o seu meio de excelência, os jornais, definha. “É uma longa-metragem documental que entrevista os melhores e mais brilhantes cartoonistas” para lhes perguntar: “Será que a arte das tiras de banda desenhada está a morrer? Terá uma segunda ‘Era Dourada’? E como é que os artistas podem ganhar a vida com ela, quando todas as regras da distribuição através dos jornais estão a ser quebradas?”, pergunta Kellett.

Watterson aproveitou o trocadilho do título, entre o strip da tira de BD e o strip do verbo despir como inspiração para o seu cartoon. O Ípsilon ainda lhe perguntou pelo desenho na entrevista, mas a esta questão já o autor de Calvin & Hobbes não respondeu. Parco nas suas declarações públicas, remeteu-nos para as palavras ao Washington Post: “Aparte ter fornecido umas poucas frases para o documentário, não estou envolvido no filme, daí que o pedido do Dave [Kellett] para desenhar o cartaz tenha vindo completamente do nada. Pareceu-me divertido e, se calhar, algo que as pessoas não estariam à espera, por isso, decidi experimentar.”

De acordo com Kellett, talvez tenha sido a sua honestidade e a de Fred Schroeder na abordagem a persuadir Watterson “a tirar as teias de aranha dos seus frascos de tinta”, nas palavras do próprio ao Washington Post. “Tudo o que eu e o Fred fizemos foi dizer-lhe a verdade. Que ao planear o cartaz não conseguimos pensar em mais ninguém que melhor representasse a arte, a inteligência e o espírito dos cartoons como ele.”

Para o autor, que não fazia um cartoon desde que decidiu acabar Calvin & Hobbes há 19 anos, a experiência foi engraçada: “Face ao título do filme e ao facto de haver muito poucas coisas mais divertidas do que a nudez humana, a ideia veio-me à cabeça quase totalmente formada. O filme é uma grande declaração de amor à banda desenhada, por isso tentei fazer uma coisa muito de cartoon.”

Kellett só tem elogios: “É um desenho fantástico, enérgico e divertido que capta o espírito do filme.” E que espírito é esse? O co-realizador responde que se trata de um “projecto de paixão”, “uma carta de amor às tiras de banda desenhada” feita em jeito do documentário que sempre quiseram ver. “Fred e eu partilhamos o amor pela banda desenhada e o nosso entusiasmo foi crescendo em inúmeras conversas. Esta é uma época excitante e desafiante para a banda desenhada, um momento de verdadeira transição, e quisemos capturá-la.”

O documentário, que começou por ser sobre “o que acontece a uma arte quando a distribuição altera as regras”, com a “morte da impressão e a ascensão dos pixéis”, foi crescendo ao longo dos quatro anos que demorou a concretizar, transformando-se numa história da BD e da sua distribuição e num manual de instruções sobre como se cria uma tira de BD diária. Objectivos ambiciosos apoiados na qualidade e na quantidade de entrevistados. Além de Watterson, outros nomes de peso dão o seu contributo, como Jim Davis (criador de Garfield), Cathy Guisewife (Cathy), Mort Walker (Recruta Zero), Jean Schulz, viúva de Charles M. Schulz (Charlie Brown e Snoopy), entre mais de 70 entrevistados.

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