Com o coração no violino

Deixou o nome Final Fantasy, mas não perdeu o talento para compor canções elegantes de apelo clássico e recursos pop

Ao longo de três álbuns, o canadiano Owen Pallett, até agora conhecido pelo pseudónimo Final Fantasy, tem conseguido não cair na repetição, sem perder as características estruturais que o distinguem no panorama pop de há cinco anos a esta parte.

Às vezes comparado, mais por facilidade do que por afinidade, a Andrew Bird ou a Joanna Newsom, as suas canções possuem uma densidade e um volume próprios, conseguindo conciliar com grande elegância o apelo classicista com recursos pop. Ou seja, a sua imagem de marca são canções que se posicionam algures entre a pop, a música contemporânea orquestral e as electrónicas. É esse o tronco. O primeiro álbum era um exercício individual para violino. O segundo para quarteto de cordas. E o terceiro para uma verdadeira orquestra sinfónica.

É admirável que, apesar da contínua complexificação do seu trabalho, a forma vulnerável, às vezes tosca, como se expõe, vocal ou mesmo instrumentalmente, não se dilui. Como se nunca perdesse de vista que a sua mais-valia é exactamente a forma como gere fragilidades, atribuindo-lhes novos sentidos.

Não é um disco tão minimal como os anteriores, respirando maior delicadeza, cantilenas em forma de fanfarra, construídas com paciência, camada a camada, a partir de elementos que mudam em permanência, como se fôssemos convidados a assistir a um exercício que parece estar sempre a recomeçar. Umas vezes exuberantes, outras rigorosas, os temas de "Heartland" são canções orquestrais que misturam cordas sumptuosas, melodias circulares e motivos rítmicos repetitivos, aqui orgânicos e ali sintéticos. Por cima paira a voz particular de Owen Pallett, procurando um equilíbrio entre introversão e emancipação. Objectivo plenamente conseguido.

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