Os melhores discos de pop de 2011

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Escolhas de João Bonifácio, Gonçalo Frota, Jorge Mourinha, Luís Maio, Mário Lopes, Nuno Pacheco; Pedro Rios, Vítor Belanciano

1. PJ Harvey

Let England Shake

Island; distri. Universal Music

Polly Jean desferiu uma seta ao coração inglês. Cantou o país caminhando sobre os mortos da I Guerra e fê-lo sem empunhar uma guitarra a urrar feedbacks e com os caninos a escorrer raiva, mas antes com uma elegância espectral e agarrada a uma autoharp. A desolação alastrou ao presente e nem David Cameron escapou a ouvi-la. G.F.

2. James Blake

James Blake

Atlas, distri. Universal

Ritmo, alma, silêncio, atitude visionária, minimalismo elegante e uma voz que suspende os sentidos. Eis o álbum de estreia de James Blake, minimalista, espaçoso, alojando subgraves para erguer a sua própria realidade, projectada em baladas soul cheias de distorção, lamentos em forma de narrativas lacónicas e voz alterada digitalmente em canções secretas, de climas introspectivos e de grande sensibilidade melódica. V.B.

3. Tom Waits

Bad as Me

Anti; distri. Edel?

Fossem todos tão maus quanto ele. A idade em Tom Waits até pode obrigar a que o homem com voz de gravilha passe os anos de intervalo entre os discos a beber chá de camomila e dedicado à jardinagem, mas sempre que regressa é para nos lembrar que não há domesticação possível para estes blues ariscos. G.F.

4. Shabazz Palaces

Black Up

Sub Pop, distri. PopStock?

Cacos, fragmentos, restos da civilização industrial, consolas de jogos vídeo que nunca mais jogarão, portáteis que nunca mais serão levados para lado nenhum, respigados para uma música desengonçada. Shabazz Palaces é isso. Hip-hop, mas como espectros que se movem por entre camadas de origens remotas, uma colisão de partículas que recompõe cenários conhecidos. V.B.

5. Destroyer

Kaputt

Merge Records?

Há mais de uma década que o canadiano Dan Bejar era um segredo bem guardado do universo indie. Este álbum alterou essa condição de músico prolífico mas ainda largamente por descobrir, com canções que se mostram como se fossem rigorosas aguarelas sonoras, aperfeiçoadas por movimentos electrónicos, elementos jazzísticos, guitarras límpidas e um entendimento minucioso de formas, tempos e espaços. V.B.

6. Bon Iver

Bon Iver

4AD, distri. PopStock?

Poder-se-ia imaginar que seria um disco mais acessível que o seu antecessor, mas é ao contrário. Em vez de folk convencional temos uma espécie de pop de câmara com qualquer coisa de exploratório. E depois existe ainda a voz de Julian Vernon, manejando tempos e emoções com à vontade, tão depressa capaz de nos transportar para as temperaturas altas da soul, como evocar ecos alegóricos da folk. V.B.

7. Halloween

Árvore Kriminal

Sonoterapia; distri. SóHipHop?

Esperámos cinco anos pelo segundo álbum de Halloween, mas nada lamentámos. Ninguém rappa como ele, no seu tom cavernoso tão capaz de fúria e neurose quanto de requebro e melancolia. E poucos têm a sua mestria na criação de narrativas que nos põem, de forma sufocante, no centro da história. São canções de anjos em queda e de demónios que se erguem. É música que perturba tanto quanto contagia. Portugal, 2011. M.L.

8. Norberto Lobo

Fala Mansa

Mbari?

Norberto Lobo fala da sua música como poesia, dedica temas a Jack Rose e a Lhasa de Sela e inventa um disco de guitarra acústica (mais uns fios de voz e órgão) tão estupidamente bom que dá para esquecer que já foi inventada a figura do vocalista. Uma guitarra que se basta a si mesma e é não menos do que milagrosa. G.F.

9. Eleanor Friedberger

Last Summer

Merge Records; distri.CoOp?

Eleanor Friedberger refreou o ímpeto experimentalista do irmão Matthew, com quem partilha os Fiery Furnaces, mas não o talento para a criação de pérolas que deitam mão à história - pedaços de soul Stevie Wonder, romantismo 80s em versão de bom gosto, diversos psicadelismos pop. Isto sem que, por um momento que seja, julguemos ouvir alguém que não esta mulher de bom gosto tremendo, com voz e métrica inconfundíveis. Foi um prazer descobrir o "Last Summer" de Eleanor. M.L.

10. The Weeknd

House of Balloons

edição de autor?

Podemos meter estas canções no saco R&B, mas o triunfo de Abel Tesfaye é fazer-nos esquecer rótulos. Música de cama, que pega em "samples" de gente improvável (Siouxsie and the Banshees?) para fazer canções em câmara lenta, dopadas, luxuriantes, mesmo que esqueléticas, num roço contínuo com o nosso corpo. P.R.??

11 - Real Estate, Days; 12 - Kurt Vile, Smoke Ring For My Halo; 13 - Panda Bear, Tomboy; 14 - Fleet Foxes, Helplessness Blues; ?15 - Aquaparque, Pintura Moderna; ?16 - Cass McCombs, Wit's End; ?16 - Fausto Bordalo Dias, Em Busca ?das Montanhas Azuis; 16 - Paul Simon, ?So Beautiful or So What; ?16 - Rapture - In The Grace Of Your Love; 20 - Aldina Duarte, Contos de Fados?

Escolhas de João Bonifácio, Gonçalo Frota, Jorge Mourinha, Luís Maio, Mário Lopes, Nuno Pacheco; Pedro Rios, Vítor Belanciano

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