Micro Audio Waves: a libertação das canções

Foto

Esta sexta-feira, no Centro Cultural de Belém (CCB), os Micro Audio Waves destapam o véu sobre o seu quinto álbum, um regresso à linguagem mais pop.

Quando a bagagem a embarcar num avião não respeita as dimensões convencionais, nessa altura é remetida para um sorvedouro capaz de engolir tudo o que escape às regras. Habitualmente, essa entrada encontra-se encimada por uma tabuleta que informa: Odd size baggage. Terá sido essa sensação de não cumprir com as normas da pop electrónica a levar o trio português Micro Audio Waves - composto por Flak (também dos Rádio Macau), Carlos Morgado e Cláudia Efe - a atribuir tal designação ao seu terceiro álbum, em 2007. Dois anos depois, esticaram ainda mais a corda da imprevisibilidade ao criar com o coreógrafo Rui Horta o espectáculo - editado posteriormente em CD e DVD - Zoetrope. Hoje em Lisboa, os Micro Audio Waves voltam ao início: às canções.

O concerto foi ontem apresentado em ensaio aberto à população de Montemor-o-Novo, como moeda de troca pela residência n"O Espaço do Tempo - dirigido precisamente por Rui Horta na cidade alentejana -, onde o grupo preparou o regresso aos palcos lisboetas e a estreia de quatro a cinco canções que integrarão o quinto álbum, a sair em Outubro. Mas o coreógrafo, desta vez, foi mero espectador.

O espectáculo do CCB foi desenvolvido com Marco Madruga, designer responsável pelas capas de quase toda a discografia do trio. "É um conceito mais gráfico, mais de luz, do que propriamente [portador] de uma narrativa", explica Flak, em linha com a ideia de que o álbum em fase de depuração não vai seguir uma linha "tão conceptual quanto o anterior".

O tom, aliás, imposto pela preparação específica de Zoetrope - "uma experiência óptima, mas um trabalho muito focado e muito cansativo naquela direcção", lembra Flak - tratou de roubar espaço às canções mais escancaradamente pop que os Micro Audio Waves foram criando nos últimos anos. "Agora precisávamos de conquistar algum espaço, de libertar-nos um bocado disso; as músicas que temos feito são canções mais leves, com menos texto, mais cantadas. Fomos recolhendo tudo aquilo que fizemos ao longo deste tempo com esse lado mais pop". "De qualquer maneira", ressalva, "será sempre uma pop à Micro Audio Waves, porque nunca é muito alinhada". Exemplo disso é Donna Samurai, single que antecipa o disco ainda por baptizar e que é certo no alinhamento de hoje.

Em palco, o trio que compõe o núcleo duro dos Micro Audio Waves terá a companhia de uma nova secção rítmica - Francisco Rebelo (Cool Hipnoise, Orelha Negra), no baixo, e Nuno Pessoa (Coldfinger, Minta), na bateria -, peças fulcrais nos arranjos novos. Isto porque a escolha do reportório respeitou duas preocupações-base: a de recuperar temas que, na sua natureza, não firam a direcção dos temas a estrear e a de interpretar algumas canções do primeiro disco que foram tocadas apenas em trio.

A produção do novo álbum, apesar dos elogios públicos de Tony Visconti (mítico produtor de T. Rex e David Bowie), fica nas mãos da própria banda.
Sugerir correcção
Comentar