Vamos ouvi-los pela primeira vez em 2009

Foto

Quem serão os Vampire Weekend, Santogold, Duff y ou MGMT de 2009? As estreias que poderão virar estrelas? Eis algumas hipóteses.

Em 2008, algumas das estreias mais badaladas do ano estiveram por conta dos Vampire Weekend, Santogold, MGMT, Ting Tings, Lykke Li ou Duffy. Há um ano, uma minoria conhecia-os. Hoje são nomes firmados. Para os atentos, a consagração dos Vampire ou Duffy não foi surpresa. Mas quem imaginava que os americanos Fleet Foxes seriam a banda preferida de 2008 para muito boa gente?

É nessa fronteira, entre projectar o que aí vem, com base em factos concretos, e o espaço da imprevisibilidade, que se fazem apostas para 2009. Uma coisa é certa: algumas tendências de 2008 não se esgotarão apenas porque dobrámos mais um ano.
Sim, vivemos num mundo global, os centros de influência multiplicaram-se, a internet cria a ideia que podemos obter visibilidade mesmo habitando num país recôndito. Verdade. Mas se estivermos em Nova Iorque ou Londres as hipóteses aumentam.

É isso que apetece dizer quando se olha para os que estão na linha de partida para obterem reconhecimento quando se estrearem em breve. Em Nova Iorque, com epicentro no fervilhante ambiente criativo de Brooklyn, continua a trabalhar-se.
Que o diga David Sitek que, o ano passado, para além de ter estado activo com o seu grupo, TV On The Radio ainda teve tempo para produzir os álbuns de Scarlett Johansson e Foals. Reincide com Busy Gangnes e Melissa Livaudais, as Telepathe, dupla que lança em Fevereiro "Dance Mother", ou seja pop mutante que se dança, mas com cabeça.

Também de Brooklyn são os Mirror Mirror ou os Mixel Pixel, trio de artistas visuais transformados em músicos, por via da simbiose entre pop angelical, psicadelismo barroco e electro caseiro.
Se, o ano passado, a editora nova-iorquina DFA de James Murphy (LCD Soundsystem) foi comentada pelo álbum de estreia dos Hercules & Love Affair, agora a aposta chama-se Holy Ghost, entre o electro musculado e o neo-disco. A mesma linha seguida por outra dupla nova-iorquina, os Runaway.

Quem vai continuar nas bocas do mundo é a Austrália. Há mais para além dos Cut Copy ou Midnight Juggernauts. Já em Fevereiro vamos ouvir Empire Of The Sun ou seja Luke Steele dos Sleepy Jackson e Nick Littlemore dos Pnau, numa veia pop electrónica dançante não distante dos Cut Copy. Mais improváveis são The Temper Trap, com um rock épico, ideal para ouvir nos estádios frequentados pelos U2 ou Coldplay.

Quem continuará a exportar pop irreal e colorida são os suecos, via The Sound Of Arrows, mas a inglesa Little Boots promete rivalizar nos excessos.
Nos meses que aí vêm, Santogold e M.I.A., de um lado, e Amy Winehouse e Duffy, do outro, vão debater-se com concorrência. A competir com as primeiras está Mapei, sueca cortejada por produtores como Sinden e Spank Rock, pelo que o seu futuro está assegurado. Outra tribalista urbana que promete dar que falar é a londrina, de ascendência ganesa, Thecocknbullkid, espécie de elo perdido entre Madonna e M.I.A., apesar de citar como inspiração Abba ou Pharrell Williams.

Também londrina, VV Brown não o vozeirão de Winehouse, nem o apelo transversal de Duffy, mas tem mais pinta, mescla de Ella Fitzgerald e B-52's, Cansei de Ser Sexy e Elvis Presley, exemplo de que a pop dos anos 60 está mesmo de regresso.
Outra londrina, La Roux, vai ser "convidada especial" na digressão que se vai seguir de Lilly Allen, mas a sua pop electrónica dançante promete fazer estragos sem necessidade de terceiros.

Quem está mais do que lançada é a inglesa Florence and the Machine, com concertos elogiados por todo o lado. Vai lançar álbum de estreia e tem canções de apelo popular para se impor sem grandes dificuldades.
Do Kansas, EUA, virá Janelle Monae. A forma, fácil, de a definir, é qualquer coisa como a "versão feminina de Prince". Adulada por outro devoto de Prince, André 3000 dos OutKast, será referência a ter debaixo de olho no moderno R&B.

No Verão ninguém se surpreenderá se Kid Cudi, "rapper" de Cleveland, EUA, que deu nas vistas no último álbum de Kanye West, ser muito comentado. É que os seus talentos não são apenas vocais, com um som minimal que não se fica pelo hip-hop.
Outro impacto previsível é o de Kid Sister. Já era uma das promessas de 2008 mas o seu álbum de estreia, "Dream Nate", tem vindo a ser adiado, pelo que é este ano que a nativa de Chicago vai estoirar. O "rapper" Kanye West adora-a, o DJ A-Trak não a larga e o seu som, composto de hip-hop multicolorido e electro gorduroso, é aditivo.
Situação semelhante é a da inglesa Ebony Bones, que até já actuou em Portugal duas vezes, atestando que o seu álbum de estreia tem tudo para dar certo.

Há um ano os MGMT eram ilustres desconhecidos. Em 2009 terão seguidores. Como os ingleses The Big Pink, os americanos Apes and Androids ou os The Passion Pits, do Massachusets, EUA, movendo-se entre a electrónica poética, o psicadelismo muito colorido e sensibilidade pop.
Quem também já parece ter criado descendência são os Vampire Weekend. O veterano David Bowie já o percebeu. Os ingleses Fanfarlo são a sua última paixão e percebe-se porquê, com um som melódico, algures entre os Vampire e os The Dodos.

Outros britânicos, os Man Like Me, não andam longe desta equação, embora a influência dos Vampire seja diluída por um sentido de humor britânico, com alusões a The Streets ou Hot Chip.
Por falar em linhagem, quem parece ter assegurado a sua são os New Order e os Magnetic Fields. Conferir, no primeiro caso, com os Delphic e, no segundo, com The Ballet e The Homophones.

O que também se vai continuar a ver é gente munida de guitarras acústicas a fazer canções intimistas, como Alexi Murdoch ou o nova-iorquino Fredo Viola que se estreará com um álbum que promete folk-pop polifónica, com doses iguais de estranheza e familiaridade. Do eixo Paris-Los Angeles vem Soko, com folk tosca mas cheia de graça, entre o desengonçado Daniel Johnston e o brilho das irmãs CocoRosie. E na secção cantautores brancos de alma soul condenados ao sucesso há dois nomes que poderão vir a sobressair - Daniel Merriweather e Jonathan Jeremiah.

Também destinados a serem acontecimento, e a serem apelidados de sucedâneos dos Killers, são os ingleses White Lies ou os Red Light Company.
Gente que se desiludiu com grupos e vai enveredar por carreiras a solo também não falta. É esse o caso do inglês Dan Black que deixou os Servant para criar música para guitarra, caixa de ritmos e "samples", e a verdade é que resulta.
O ex-guitarrista dos Secret Machines, Benjamin Curtis, tem também projecto novo, School Of Seven Bells, aventura com duas cantoras, entre o rock sonhador e a electrónica ambiental, com pontos de encontro com os Blonde Redhead.

Conhecido pelo duo DJ Gucci Soundsystem e por trabalhos a solo, o inglês Riton vai lançar-se na aventura Eine Kleine Nacht Musik, numa linha electrónica nocturna melancólica, capaz de evocar os crescendos rítmicos dos alemães Can.
Em Portugal quem foi conquistado pelo regresso do rock literato em português - Os Pontos Negros e Tiago Guillul - não vai perder de vista os Doismileoito ou Os Golpes, mas a surpresa poderão ser os Aquaparque, capazes de agarrar em alguns indícios semelhantes (António Variações, Heróis do Mar), mas transportando-os para um lugar novo, arriscado, universal.

No campo das electrónicas de dança feitas em Portugal - mas de vocação internacional - atenções viradas para o álbum de estreia dos Photonz e para os novos capítulos a serem ensaiados por Slight Delay ou Moulinex, enquanto em Inglaterra se dançará ao som dos AutoKratz, ou seja o regresso do conceito de super-grupo electrónico, na linha dos anos 90 (Underworld, Chemical Brothers).
Mas no, cada vez mais, complexo, estilhaçado e aparentemente descontrolado mercado da cultura pop, é certo que algumas das revelações do ano surgirão de quadrantes - geográficos, estéticos e sociais - que ninguém consegue prever. Oxalá.

Todos os nomes mencionados são audíveis no MySpace

Sugerir correcção
Comentar