Artes performativas: a década em dez "flashbacks"

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Fim do Ballet Gulbenkian Em Julho de 2005, o anúncio da extinção do Ballet Gulbenkian deixou mais do que a comunidade artística em choque. Acompanhando um ciclo internacional de morte natural de grandes companhias, não se traduziu nem na melhoria de condições da única companhia de âmbito nacional, a Companhia Nacional de Bailado, nem num efectivo programa complementar de apoio à dança.

Encerramento do Rivoli Encabeçado da primeira à última hora por Isabel Alves Costa, o Rivoli funcionou como modelo de um teatro que, sendo municipal na tutela, era nacional na ambição. O precedente aberto por Rui Rio com o encerramento de um serviço público em nome da rentabilidade legitimou outras câmaras e marcou a desistência de um programa plural para uma cidade com a responsabilidade do Porto.

Crise no Teatro Nacional D. Maria II Na década em que os teatros nacionais passaram a empresas públicas, para alívio orçamental do Ministério da Cultura, assistiu-se à tumultuosa substituição, na direcção do D. Maria II, de António Lagarto por Carlos Fragateiro. A nova direcção foi contestada com manifestações à porta e o mandato de três anos não chegou ao fim, com a direcção a ser dispensada, por despacho, depois de acusada de gestão danosa.

Um novo perfil de programação A saída de António Pinto Ribeiro e a entrada de Miguel Lobo Antunes na Culturgest cria um outro paradigma de programação - sobretudo no teatro, com Francisco Frazão - e marca a chegada de uma geração que inclui nomes como Paulo Vasques (Circular) e Marta Furtado (ZDB/Negócio) e que vem juntar-se a outra, anterior (Paulo Ribeiro, Rui Horta, Cristina Grande e Pedro Rocha, Nuno Cardoso, Mark Deputter, e até Diogo Infante), que assume um entendimento plural e complementar das artes performativas.

Novos nomes, valores... e prémios Muito porque o mapa e a filosofia dos espaços se modificaram, e também porque o quadro de atribuição de apoios públicos se alargou, a década permitiu o surgimento de nomes nos mais diversos domínios, alguns dos quais acabaram premiados: Teatro Praga, Patrícia Portela, Tiago Guedes, Tânia Carvalho, Cláudia Dias, Circolando, Mala Voadora, Sónia Baptista, Tiago Rodrigues, José Maria Vieira Mendes, André Mesquita, Primeiros Sintomas e Miguel Pereira.

A Capital, presente adiado  Ao longo da década, o projecto Artistas Unidos, dirigido por Jorge Silva Melo, foi uma batalha que teve como objectivo principal a recuperação do edifício A Capital, no Bairro Alto, fechado por ordem da Câmara Municipal de Lisboa em 2002. Desde então, o que aquele edifício entaipado representa é também o diálogo de surdos entre os criadores e os decisores politicos e económicos.

Descentralização Falar de descentralização significa, hoje, falar em novos centros, com casos exemplares como o Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), o Teatro Viriato (Viseu), o Devir/Capa (Faro), o Festival Materiais Diversos (Minde), e as Comédias do Minho. Companhias houve ainda que saíram das suas casas, com destaque para o Teatro Meridional, que criou "Por Detrás dos Montes" com o Teatro Municipal de Bragança, e para a residência do Teatro da Garagem no mesmo interior profundo.

Internacionalização A presença regular de espectáculos internacionais teve nesta década um peso significativo. É hoje comum ver o nome de instituições nacionais nas listas de co-produções. Caso particular: o Teatro Nacional S. João que, em 2004, aderiu à União dos Teatros da Europa. O esforço levado a cabo por Ricardo Pais e José Luís Ferreira teve os seus pontos altos nos festivais PoNTI e Portogofone.

Formação Não só o Centro de Estudos de Teatro, da Faculdade de Letras de Lisboa, conseguiu encontrar condições para avançar para um programa completo de formação que inclui agora mestrados e doutoramentos em Estudos de Teatro, como a Escola Superior de Dança e a Escola Superior de Teatro e Cinema passaram a oferecer licenciaturas e mestrados. Formaram-se ainda alunos em Estudos Artísticos em Coimbra e Évora, alargando assim o leque de possibilidades.

RIP Isabel Alves Costa, Mário Barradas, Raúl Solnado, Dalila Rocha, Paula Castro, Morais e Castro, Augusto Boal, Pina Bausch, Merce Cunningham, Harold Pinter, Maurice Béjart, Henrique Viana, Paulo Autran, Alexandre Babo, Canto e Castro, Isabel de Castro, Camacho Costa, Glicínia Quartin, Carlos Porto, Manuel João Gomes, Mónica Lapa, Jorge Vasques, Paulo Claro...

*Tiago Bartolomeu Costa a partir de uma selecção de temas feita com Jorge Louraço Figueira, Luísa Roubaud, Rita Martins e Rui Pina Coelho

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