Hoje e amanhã há Os Golpes, Sean Riley, Carminho e B Fachada no festival Bom Barreiro. É uma espécie de melhor da música portuguesa de 2009
Quase se pode dizer que o Festival Bom Barreiro deste ano é uma espécie de "o melhor da música portuguesa" do último ano. Ontem houve Tó Trips, hoje e amanhã temos Os Golpes, Sean Riley, Carminho e B Fachada. Só falta ali Cacique 97 e o grande João Coração para bater tudo certo. Comecemos por sábado: Sean Riley é o português mais americano desde Old Jerusalem. Mas onde este é despojamento e afecto de uma country negra, Riley tem os Slowriders a expandir o seu som e é adepto de uma escrita mais clássica e aberta, mais canção-canção. Talvez por isso, não podia ser mais irónica a parelha que lhe arranjaram: Os Golpes, que se estrearam este ano com o óptimo "Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco", são uma espécie de porta-bandeiras do regresso à pop em português. Falamos das letras, da voz, claro, porque de resto a pop indie d'Os Golpes toca em inglês, com resquícios dos Pavement e dos Smiths naquelas guitarras. Umas vezes lembram uns Sétima Legião sem depressões e mais menineiros, outras uns Heróis do Mar com mais pedal, mas o que interessa é que têm grandes linhas de guitarra e belas melodias. Sábado é dia de Carminho e B Fachada. Carminho apresenta "Fado", disco de estreia, deste ano, em que se dá a conhecer uma tremenda voz, cheia de víscera, ainda por limar: o apelo popular das suas variações, dos seus melismas, só é intensificado pelo nervo com que canta. B Fachada é um caso ainda mais particular. No seu myspace descreve-se como "folque(lore) erudito", o que é tão certeiro quanto irónico. Fachada, de facto, pilha na tradição portuguesa, mas de forma tudo menos convencional. Uma guitarra rústica, não propriamente bem tocada, fornece a rede onde a voz - tão desafinada como a de qualquer dona Maricota, qualquer Ti Joaquina - rabia em melodias que devem tanto à folk como às cantigas da rádio. Aparecem por ali pianos, coros, palmas, o que mais for. Às vezes, como em "O ciúme a vergonha", de "Um Fim-de-semana no Pónei Dourado", disco deste ano, parece um Carlos Paião rústico. Às vezes como em "Zé!" (do mesmo disco) parece um rural-experimentalista que oscila entre o cambalacho e o génio. Sean Riley e Os Golpes na mesma noite? B Fachada e Carminho na mesma noite? Faz nenhum e todo o sentido, esta espécie de o-melhor-da-música-portuguesa-de-2009.